A neutralidade é motivo de orgulho para o Brasil, a diplomacia de paz do Itamaraty defende a imparcialidade nos conflitos internacionais, hora alegando defender os interesses nacionais, hora invocando princípios do direito internacional, tais como livre determinação dos povos.
Aos olhos mais atentos, a neutralidade brasileira é questionável. Em 1982, quando a ditadura argentina decidiu que atacar as Ilhas Malvinas, de facto inglesas, não era a pior ideia do mundo, o Brasil logo invocou neutralidade, sob a condição de que não houvessem ataques a Argentina Continental. Porém, os argentinos contavam com benevolência brasileira para que armas vindas de outros países pudessem passar pelo território nacional e chegar em seu destino final em terras portenhas.
Quando a Rússia atacou militarmente o território ucraniano dando inicio a uma guerra convencional entre dois estados, o Brasil logo evocou a neutralidade. Porém, o presidente brasileiro Lula da Silva apontou que Russia e Ucrânia eram responsáveis pela guerra, motivo pelo qual, segundo ele, "quando dois não querem, um não briga".
Equivaler um ataque militar de larga escala a uma defesa de um país não parece exatamente proporcional.
O Brasil é membro do BRICS, do qual Rússia também é parte. Este é, segundo consta, uma espécie de bloco comercial idealizado por Jim O 'Neil, economista do Golden Saches, porém que tomou contornos de "nova ordem mundial" após o inicio do conflito no leste europeu, mas que comporta-se como um bloco internacional para China chamar de seu.
Existe uma proposta de negociações de paz que está sendo tocada pela Suíça, praticamente todos os países estão sendo convidados, inclusive a Rússia, que já deixou claro que não vai. O assessor especial da presidência, Celso Amorim, foi não a Berna e sim a Pequim, onde assinou comunicado conjunto com a China que basicamente reafirma que a Rússia deve estar presente em uma negociação de paz.
Entramos em um ciclo de cinismo. Então sem Putin não pode ter negociações de paz, Putin não quer negociar agora, logo devemos esperar a boa vontade do agressor para que haja um esforço da comunidade internacional para evitar um conflito ainda mais beligerante?
Uma posição isenta deve forçar os países envolvidos a sentarem em uma mesa e uma negociação com atores de todo o globo é um ótimo plano de fundo para isso. Mas o Brasil não vai, pelo menos não com figuras do primeiro escalão do governo, como escrito por Clara Balbi na Folha.
Uma negociação de paz deve ocorrer quando e onde Putin querer e se querer? Quanta isenção, o mundo deve nos agradecer por tamanho empenho na paz internacional. Porque não um Nobel para o Lula?
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